sexta-feira, 14 de outubro de 2016

(os cinco erros que deves cometer numa relação)


SER FRACO: sente tudo, mesmo que com medo. Sentir é o melhor erro que podes cometer. O mais delicioso. Sentir é a melhor maneira de viver. Sê frágil porque é apenas humano ser frágil. Não queiras ser o mais forte do teu bairro, o mais forte da tua rua. Não queiras ser herói. Sê tu. Sê extravagante o suficiente, sê maluco o suficiente, sê inconsciente o suficiente: vai pelos sentidos, vai pelas emoções. Não tentes escapar, não tentes fugir; resolve o que sentes em ti. 
Não sejas quadrado. 

SER INCOERENTE:  o amor não é sempre coerente – e ainda bem. Não sejas obsessivo acerca disso. Relaxa. A coerência que se dane. É mais importante, muito mais importante, a criatividade. Sê criativo. Todos os dias. Demencialmente. Sê capaz de encontrar novos caminhos em cada novo momento: escreve uma carta de amor, faz um jantar excêntrico, encontra sempre novas maneiras de fazer as velhas coisas de sempre. Erradica a monotonia. 
Não sejas quadrado.

SER LUNÁTICO: não evites o risco, não evites a utopia. Tenta pelo menos o impossível, o intangível. Tenta a tua sorte: procura-a, escava em busca dela, trabalha por ela, faz tudo por ela.  Sonha grande e faz com que sonhem em grande contigo. Amor sem sonho não é amor. E vida sem amor não é vida. 
Não sejas quadrado.

DISCUTIR: discutir é lutar pelos teus sentimentos, lutar pelo que queres, lutar pelo que te parece melhor. Em nome do amor. Só em nome do amor. Nunca em teu nome pessoal. Nunca por egoísmo bacoco. Nunca por orgulho. Nunca por casmurrice. Nunca porque não queres perder. Nunca porque queres ficar por cima. Nunca porque queres ficar com crédito. Nunca porque queres que te fiquem a dever uma. Nunca porque queres ter razão. Nunca porque tens a mania que sabes tudo. Nunca. E sempre. Sempre para amares e seres amado. Discute com quem amas sempre que necessário – mas sempre com cimento e cola e tijolos na mão: sempre para construir. Amar é construir. O amor é levantado sobre a capacidade de discutir sem destruir. Às vezes é difícil, terrivelmente difícil. Mas um amor que acaba sem discussão não é um amor falhado; simplesmente não é um amor. 
Não sejas quadrado.

CHORAR: todos os amores têm os seus maus momentos, todos os amores têm momentos em que parece que todo o edifício vai ruir insuportavelmente. Nesses momentos, chorar deve ser feito: chorar tem de ser feito. Para abrir a válvula: para deixar a dor sangrar. Para que o tempo passe, para que a pressão acalme, para que o que dói acalme também. Deixa que acalme, sem pressas. Só assim poderás voltar a construir. Chora quando chorar tem de ser; deixa o teu amor chorar quando chorar tem de ser. E faz-te homem (daqueles homens que interessam: os que choram, claro; os que não têm medo de chorar porque felizmente se estão nas tintas para os velhos e jovens do Restelo que têm medo de chorar, que têm medo de deixar de ser homens sempre que choram: enfezaditos coitaditos, não são?) com cada lágrima. 
Não sejas quadrado.


in "Prometo Perder" de Pedro Chagas Freitas

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pela reflexão....

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...